De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Ana Luísa Veloso

Ana Luísa Veloso

Ana Luísa Veloso: Membro da Direção da APEM

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de andamento, ou movimento. Movement, em inglês. A velocidade, o passo, a forma como a música nos embala. Designa normalmente uma secção de uma determinada obra como uma sonata, uma suite uma sinfonia. Tem este nome porque a música é movimento. Porque a primeira sensação que temos ao escutá-la é exatamente esse sentir compassado de ir ao som de, esse sentir que nos atravessa os músculos e que por vezes nos faz, involuntariamente, bater o dedo, o pé, abanar a cabeça.

B

de Biesta. Gert Biesta. Filósofo, Educador, Professor na Brunel University em Londres. Um discurso novo sobre a educação, e escola, os professores, tão próprio para os dias de hoje. Confronta-nos com os nossos conceitos enraizados de democracia e inclusão. Propõe que repensemos a questão da opressão e da liberdade do aluno à luz de filósofos como Rancière. Imprescindível para todos os educadores, inclusive os de música. Ruth Wight faz um trabalho notável nesta aproximação de Biesta à música e ao que poderá ser aquilo que Biesta denomina de Pedagogia de Interrupção. Vejam o artigo em http://act.maydaygroup.org/articles/Wright13_1.pdf

C

de colaboração e criatividade. Dois conceitos que nem sempre andam juntos. Temos a tendência para associar a criatividade ao grande génio solitário, mas a verdade é que cada vez mais se aponta para o facto de que, mesmo estes génios, muitas vezes trabalhavam em parceria, expunham e dialogavam sobre o seu trabalho com mais alguém, alguém próximo, fonte inesgotável de ideias. Em Inglês usa-se o termo Collaborative Criativity, um conceito recente, mas indispensável para compreender fenómenos como o jazz, as bandas rock, ou a improvisação e composição dos nossos alunos, quando é feita em grupos. Em breve publicarei um artigo no British Journal of Music Education que fala sobre isto... Estejam atentos!

D

de Damásio. Comecei a ler Damásio com 16 anos. O livro que li primeiro foi “O sentimento de Si”. Percebi muito pouco e vi de imediato que tinha de ir à fonte, ao seu primeiro livro, “O erro de Descartes”. Deixei-me fascinar e de imediato comecei a estabelecer pontes diversas entre esta teoria das emoções e sentimentos, a música e a educação. Continuei a estudar, li todos os livros e muitos artigos. O resultado desta senda está em parte na minha tese de Doutoramento: https://ria.ua.pt/handle/10773/9066

E

de entrada. Aquele momento que antecede a luz, que antecede o início da música. Silêncio. Normalmente alguém dá um sinal com a cabeça, faz uma pequena respiração que indica “Vamos começar”. É um dos momentos de maior ansiedade para os músicos, e também para o público. Mas nem sempre é preciso um gesto. Sérgio e Odair Assad, dois guitarristas virtuosos, irmãos, contavam que ensaiavam estas entradas de olhos fechados, ou então em partes diferentes da casa. Dizem eles que é algo que se sente, que se sabe.

F

de flamenco. Música que remonta a origens ciganas e mouriscas. A guitarra, a percussão, a dança, tudo se junta num arrepio feroz de expressão de uma cultura. Ritmicamente muito denso, convida à dança e ao movimento. As melodias desenham-se não raramente à volta da escala menor harmónica, o que lhe traz aquele tom de dramatismo e fatalidade. Um dos maiores expoentes, músico que muito admiro: Paco de Lucia.

G

de guitarra. O instrumento que toco, tantas vezes chamado de viola. O termo viola é importado do Brasil onde chamam à guitarra “violão”. Mas a guitarra não é uma viola. A viola (de arco) é um instrumento de orquestra, um pouco maior que o violino, com uma tessitura que se encontra entre este e o violoncelo. A guitarra é o instrumento que todos conhecemos especialmente devido à sua divulgação no mundo popular, com seis cordas, e uma ampla caixa de ressonância. Mas não é só da música popular que se faz a guitarra. Há um reportório extensíssimo dentro da música erudita, que foi sempre muito apreciado por todos os músicos, entre eles, o compositor Schumann.

H

de harpa. Dizem ser um instrumento com um som muito semelhante ao da guitarra. As cordas são dedilhadas, tal como a guitarra, mas às cordas, nas harpas modernas, junta-se uma panfernália de pedais que ao serem pressionados, encurtam cada corda num meio tom ou num tom completo, permitindo assim que a harpa possa passar por todas as tonalidades. Instrumento fascinante, não deixa ninguém indiferente aos seus largos glissandos, que tantas vezes evocam um estado melancólico e sonhador nos ouvintes.

I

de improvisação. Assim se designam os diálogos musicais, a conversa que flui entre os músicos, quando estes tocam em conjunto sem que todas as frases musicais estejam previamente pensadas. É a essência da música, que remontará às formas mais ancestrais do fazer musical: a pergunta resposta, “o give and take”, a música criada e pensada no momento. Hoje em dia volta a ganhar lugar entre alguns compositores contemporâneos eruditos, que designam nas partituras espaços específicos para os músicos improvisarem. Mas nunca perdeu o seu lugar em músicas como o jazz, o blues, e certas correntes da música pop-rock.

J

de Jaqueline du Pré. Jaqueline fala através do violoncelo. Os dois cruzam-se e tornam-se um só. Ficou famosa pela sua interpretação do Concerto de Elgar, que escutei pela primeira vez, e tocado por esta senhora, ainda adolescente. Nunca mais me esqueci da forte impressão que me causou, parecia que a estava a escutar ao vivo, ouvia-se a respiração, o arco a tocar nas cordas. O romantismo mais profundo ali, nas mãos de uma violoncelista tão nova, que morreu prematuramente de cancro. É uma interpretação obrigatória para qualquer pessoa que ame a música.

K

de Koln Comcert: Lembro-me de dizer aos meus alunos “Este concerto é todo improvisado”. Lembro-me do espanto deles, a acompanharem no youtube todos os movimentos da música genial de Keith Jarrett, todos as nuances, todas as respirações. O concerto continua a deixar marcas a cada nova geração que passa e acredito que nunca irá morrer.

L

de Landays: Poemas de mulheres Afegãs, construídos e partilhados quase na clandestinidade. São gritos dirigidos aos homens e à cultura masculina dominante. São poemas ditos, cantados, normalmente ao ritmo do bater de uma mão. São compostos apenas por dois versos, o primeiro normalmente com nove sílabas e o segundo com 13. Falam da guerra, da separação, do amor, do luto. Encontrei-os no livro “A voz secreta das mulheres afegãs: O suicídio e o canto” de Sayd Bahodine Majrouh, editado pela Cavalo de ferro.

M

de metrónomo: O inimigo de todos os músicos. Porque cada um tem o seu tempo, a sua forma particular de sentir a pulsação. Criado a bem do rigor, é no entanto imprescindível para o trabalho de peças com indicações muito precisas quanto ao tempo e também para música de conjunto, qualquer que ela seja.

N

de notação. Durante anos foi vista como uma das coisas mais importantes a aprender na aula de música, mas depressa se percebeu que não poderia vir antes do resto. Do tocar, do cantar, do mexer nos sons. Tal como a escrita e a leitura não surgem antes da fala. E depressa se percebeu também que quem a aprende tem de perceber o seu propósito. Por isso hoje se fala da notação inventada, que surge muitas vezes a partir das próprias composições criadas pelas crianças. Surge por necessidade. Ou para que ninguém se esqueça do que foi composto, ou para a poder mostrar a alguém. E aí, sim, faz todo o sentido. E desta notação inventada, se pode então partir para a tradicional fazendo pontes, estabelecendo relações.

O

de "Orelhudo". Projeto do Serviço Educativo da Casa da Música que se destina a divulgar e a promover a audição e a apreciação musical em Escolas do 1º Ciclo. Tratam-se de 90 segundos de música diários, de todos os estilos e épocas, que vêm acompanhados, não só de informações relevantes quanto à peça escutada, como a algumas de atividades relacionadas com a mesma. Para todos os que querem começar a introduzir música na sua aula, parece-me ideal. E apela-se à criatividade de todos os professores na criação/desenvolvimento de novas atividades! Procurem aqui: http://orelhudo.casadamusica.com/

P

de Paynter. John Paynter. Compositor e Educador Inglês, lutou nas décadas de 60 e 70 por uma Educação Musical em que a criatividade ocupasse um espaço mais amplo nas vivências musicais das crianças. No seu mais famoso livro Sound and Silence (1970) refere-se ao “fazer música”, como uma resposta à vida e ao mundo que nos rodeia. Porque se trata de uma arte, esta resposta é criativa, expressão de sentimentos através de materiais moldáveis pela imaginação das crianças. Paynter desenvolve uma filosofia baseada na enação criativa com materiais musicais, na exploração de técnicas utilizadas por compositores contemporâneos e numa visão do professor como guia e facilitador.

Q

de quadrivium. Nem sempre a música esteve relegada para segundo plano. Muito pelo contrário. Na Grécia antiga e na Idade Média, ela fazia parte do quadrivium, que, juntamente com a aritmética, a geometria e a astronomia, consistia no conjunto de disciplinas obrigatórias no início dos estudos Universitários. Nesta altura, a música era estudada a partir dos seus intervalos, de forma a compreender de teoricamente e a nível prático as relações entre as notas, e de que forma estas evoluem em padrões musicais.

R

de Reijsegerr. Ernst Reijseger, um dos maiores violoncelistas do nosso tempo. Um virtuoso, que teve sempre bastantes problemas com os seus professores, já que olhava para o seu instrumento de forma aberta e criativa. Quis sempre explorar outros sons, outras formas de olhar e tocar o violoncelo. Nos workshops que dá a crianças e jovens leva-os numa viagem em que os conceitos mais básicos ligados à técnica e interpretação de violoncelo são totalmente desconstruídos, e em que a cada um é oferecida a possibilidade de encontrar a sua própria voz na ligação com este instrumento (http://ernstreijseger.com/).

S

de Soundscape, ou paisagem sonora, foi um termo introduzido pelo compositor Murray Schaffer. A Soundscape é o som, ou conjunto de sons que emergem de uma imersão sonora num determinado ambiente, natural ou criado por seres humanos. Em termos educativos é um conceito que convida as crianças e jovens a escutar, arquivar, catalogar todo o mundo sonoro que as rodeia, utilizando depois este mesmo universo sonoro em novos processos criativos, de composição ou improvisação. Em Portugal a Sonoscopia criou uma plataforma dedicada ao armazenamento e catalogação destes sons. Vale a pena visitar: http://www.phonambient.com/
Filipe Lopes, por sua vez criou o Polishphone, um software, mapa sonoro, plataforma criativa, utilizável em qualquer sala de aula que tenha um computador:http://www.filipelopes.net/Software/polisphone.html

T

de tocata e fuga em ré menor. Usada em filmes, videojogos ou como tema base para muito do reportório do rock e do metal, é uma das obras mais emblemáticas de Bach, expoente do período Barroco. Originalmente escrita para órgão, foi alvo de inúmeros arranjos para diversos conjuntos instrumentais. A primeira parte, a tocata, deriva to italiano toccare, tocar; representa uma forma musical para instrumentos de tecla feita para demonstrar o virtuosismo do intérprete. A segunda parte, a fuga, diz respeito a uma técnica de composição muito utilizada no Barroco e na qual Bach era mestre, em que o tema evolui a partir de uma série de repetições que se vão montando como linhas sobrepostas.

U

de underground. Toda a música não comercial, alternativa, que foge às grande marcas e mercados. Liga-se às ideias de criatividade, liberdade de expressão, honestidade e sinceridade.

V

de Vygotsky. Pedagogo Russo, introduzido no mundo Ocidental a partir das traduções feitas dos seus escritos por Jerome Bruner. Percursor da Psicologia Sociocultural cujos conceitos e ideias, apesar de terem sido escritos, maioritariamente, na década de 30, perduram até hoje na investigação e nas práticas educativas. No mundo anglo-saxónio, que domina grande parte da investigação escrita acerca da Educação Musical, é, juntamente com Bruner, autor basilar da recente Cultural Psychology of Music.

W

de Waters, Roger Waters, músico, baixista, e letrista fundador dos Pink Floyd, banda de rock psicadélico até hoje incontornável. The Dark side of the Moon, Wish You Were Here, Animals e The Wall, são alguns dos álbuns que ficam para a posteridade.

X

de Xerazade. Raínha Persa, narradora das mil e uma noites, foi inspiradora de uma série de obras musicais com o mesmo nome, como o poema sinfónico de Rimski-Korsakov, a abertura para orquestra de Ravel ou o ciclo de canções para voz e orquestra, também de Maurice Ravel.

Y

de Youth, Sonic Youth. Banda alternativa, formada em Nova Iorque em 1981. Incorporou uma série de técnicas experimentais e do noise no seu rock duro, muito influenciado pelo punk e pelo hardcore. Influenciou grande parte da minha adolescência e grande parte da minha forma de pensar a música.

Z

de Zorn. Saxofonista, compositor, e improvisador, virou o mundo da música do avesso com o seu estilo free improv. Criou um novo estilo de composição colaborativa baseada na improvisação, uma série de “Peças/jogo” que tocou com músicos como Dereck Baily ou Mike Patton. Criou também aquilo a que apelidou de “música judaica radical”, essencialmente através do grupo Masada. Fundador dos Naked City, onde tocou com alguns dos maiores músicos da cena improv: Bill Frisell, Fred Frith, Joey Baron e Wayne Horvitz.

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A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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©  Associação Portuguesa de Educação Musical

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