De A a Z para a Música na Educação

De A a Z para a Música na Educação... por Madalena Wallenstein

Madalena Wallenstein

Madalena Wallenstein, nascida em Lisboa em 1964, iniciou a sua formação, ainda em criança, no Movimento da Educação pela Arte, na Fundação Gulbenkian nos anos 70, nas áreas da música e do teatro. Estudou no Conservatório Nacional de Lisboa e licenciou-se em Educação.

Trabalhou desde 1987 como educadora artística, alternando a sua atividade entre contextos de criação artística, educação formal e não formal, intervenção pedagógica para crianças e jovens e ainda práticas para professores e artistas. Destaca-se o seu trabalho no Artemanhas, associação cultural que fundou e dirigiu até 2016 e a colaboração com a Fundação do Gil na conceção e coordenação artística da “Hora da Música”, projeto que se realizou em 28 pediatrias hospitalares em todo o país.

Desde 2008 que é a programadora e coordenadora da Fábrica das Artes do CCB. É através desta experiência que desenvolve um trabalho de investigação sobre programação para a infância, criação artística e públicos. Neste contexto, coordenou e foi coautora das publicações da Fábrica das Artes [CCB] “Se não havia, nada, como é que surgiu alguma coisa?”; “Raízes da Curiosidade – tempo de ciência e arte” e “Nós Todos Pensamos em Nós”. A sua atividade de pesquisa tem-se construído a partir da reflexão crítica sobre a experiência de transversalidade entre o campo artístico e o campo educativo e a exploração das potencialidades da educação artística como espaço específico da dimensão estética. Madalena Wallenstein é doutoranda em Educação Artística na Faculdade de Belas Artes do Porto.

Clique no seguinte link para ler este A a Z:

A

de arte, criada a partir de uma intencionalidade vital ligada à beleza, à surpresa, à sensibilidade, à inteligência, à crítica; criação que se desenvolve num processo divergente cujo resultado final é desconhecido à partida e que tem como objetivo provocar um abalo no óbvio, ou seja, espanto. A programação pode estimular, nos processos criativos, a consideração da perceção e atenção dos diversos públicos durante a receção artísticas. Na programação da Fábrica das Artes, desloca-se a ideia de uma arte didática, explicativa ou de entretenimento das indústrias culturais para a ideia de experiência de contemplação, fruição, experimentação e reflexão como oportunidade educativa da dimensão estética do ser humano que se faz no interior de uma arte qualitativa.

B

de Big Bang. Festival de Música e Aventura para públicos jovens é um festival europeu que integra catorze instituições europeias que se juntam com o objetivo de impulsionar a criação e a circulação de novos projetos de música para crianças e jovens da europa. No CCB, o Festival acontece em outubro e vai já na sua 8ª edição: Concertos, instalações, oficinas, Quarto dos Músicos, dentro e fora de portas. Propomos trazer para a programação uma diversidade de propostas que inclui música de qualidade de vários estilos – música antiga, jazz, erudita, eletrónica, rock, … na maioria das vezes colocada em cena na relação com outras linguagens: vídeo, luz, cenários.

C

de Comunidade Educativa seja ela efémera ou continuada e que se funda na experiência e valores partilhados e cooperados; um grupo comprometido em encontrar o que há de comum e de diferente entre os elementos que compõem essa comunidade e que toma isso em conta para que todos se realizem. Quando alguém se realiza isso é educação.

D

de dimensão estética, transversal a todos os seres humanos é desenvolvida na experiência, a experimentação, no conhecimento, na reflexão das linguagens artísticas e na sua relação com o mundo e com a inventividade. Acredito numa educação musical que navega entre a fruição e escuta, a técnica e a repetição, a improvisação e a criação, mas que sempre procura inspiração, poesia, rutura e novidade para construir a sua gramática e o seu arquivo.

E

de educação que conta com a cultura para se fundar porque é a cultura que transforma ensino em educação.

F

de fruição que acontece quando se suspende a noção de tempo cronológico para se entrar no tempo intensivo da arte. É fácil entrar nesse tempo de fruição quando se toca um instrumento com prazer ou se assiste a um concerto musicalmente extraordinário.

G

de gamelão. É um instrumento coletivo da Indonésia, das ilhas de Java e Bali constituído por um conjunto de metalofones, xilofones, kendang e gongos. O termo refere-se tanto ao conjunto de instrumentos como aos seus executantes. Na programação da Fábrica das Artes iremos apresentar um espetáculo música interativo de Elisabete Davis e Teresa Gentil “Larasati“ ou canções para adormecer Estrelas dirigido a crianças dos 0 aos 5 anos. Junta-se o gamelão, a voz e o piano preparado para reunir diferentes culturas e oferecer uma experiência sonora coletiva aos pequenos espetadores.

H

de harmonia, conceito que atravessa toda a história da música e as suas revoluções. Lembra que dois sons concordam em aparecerem juntos.

I

de infâncias. Este plural tem um sentido subtilmente disruptivo porque se propõe por em causa a infância como uma categoria que se agrupa por etapas e que tem de responder à apropriação e reprodução do conhecimento de um mundo que já estava cá antes da chegada dos novos, os que estão não param de chegar pelo nascimento. Este plural de infâncias também convoca a ideia de que o mestre se coloca no lugar de observador do outro que aprende, para aprender como esse outro aprende, para ir ao seu encontro, da sua individualidade e particularidade, porque se aprende inevitavelmente sempre que se quer aprender.

J

de jogo, como impulso lúdico da curiosidade e de desejo de mais saber é a condição essencial para a música na educação: o jogo da procura e das suas tentativas; o lúdico das experimentações; o imaginário do conhecimento e da sua descoberta; a aprendizagem dos processos melhores pelas buscas mais atentas e insistentes; os próprios riscos de tomar a alucinação pela invenção; ou a obsessão propósito - tudo aponta para o caminho da música na educação.

K

de Kalimba. É um instrumento musical pertencente à família dos lamelofones, sendo da categoria dos idiofones dedilhados. Muitos criadores musicais do universo da música experimental e eletrónica têm utilizado a Kalimba para integrar instrumentos inventados.

L

de liberdade e improvisação que pode ser aprendida desde o princípio. Começar logo na iniciação musical a improvisar e a criar a partir de motivos simples abre um caminho entre os vários caminhos a percorrer para realizar uma música na educação sólida. A improvisação é a floresta da música na educação.

M

de mini concertos - Música para Ti. É uma programação da Fábrica das Artes que se organiza por temas anuais. Já aconteceu música erudita; jazz; música do mundo; pop-rock; instrumentos improváveis; e na próxima edição, música da cidade. Trata-se de um espaço íntimo e próximo entre coloca os pequenos espectadores e seus acompanhantes e músicos. O concerto desenrola-se durante trinta minutos e, a seguir, os espectadores podem fazer perguntas e experimentar os dispositivos em cena, numa oportunidade jamais oferecida nas grandes salas.

N

de Niza, Sergio Niza. O pedagogo português que sempre me inspirou, seja na minha vida de professora de música, seja nos múltiplos contextos não formais em que desenvolvi a minha atividade profissional. Um dos Fundadores do Movimento da Escola Moderna, demonstrou sempre a firme convicção de que só a “organização cooperativa do trabalho criativo” pode romper positivamente com o problema maior dos projetos pedagógicos do Estado-nação – o da associação entre disciplina e liberdade. Os lugares de aprendizagem podem começar por ser lugares de democracia e de cidadania. Os instrumentos, procedimentos e filosofia utilizados pelo MEM podem ser aplicados em contextos de sala de aula de educação musical.

O

de Ouvido. Pensante é um livro de Murray Schafer de 1986 que integra uma série de textos sobre o seu trabalho experiencial em educação musical e soundscape desenvolvido em diversos níveis de ensino da música: “O compositor na sala de aula”; “Limpeza dos ouvidos”; “A nova paisagem sonora”; “Quando as palavras cantam”; “O Rinoceronte na sala de aula” e “Além da sala de música”. Schafer partiu da escuta de paisagens sonoras e a gama imensa de sons e conceitos que estas oferecem para refletir profundamente sobre conceitos musicais, para desenvolver atividades criativas e experienciais e propor uma nova pedagogia musical. Ver aqui: https://monoskop.org/images/2/21/Schafer_R_Murray_O_ouvido_pensante.pdf

P

de propagação sonora e exploração sensorial constituem-se como um campo muito interessante a explorar na música, na educação. Voltar ao “princípio” das coisas, aos fenómenos acústicos, re-significa a da paleta de efeitos musicais.

Q

de Quadros de uma Exposição. É uma peça escrita por Mussorgsky. Esta peça surgiu depois de um grande amigo do compositor, o pintor Hartman ter morrido. Mussorgsky escolheu dez quadros do seu amigo e compôs uma música para cada um deles. Este é um bom exemplo de como a inspiração para a criação surge de inquietações fortes e da experiência da vida e do mundo. Há um forte jogo entre a imagem dos quadros e os conceitos musicalmente explorados. Uma boa sugestão para o trabalho de criação na música na educação.

R

de reflexão. É um dos aspetos fundamentais da música na educação seja do ponto de vista de quem aprende seja de quem ensina. Refiro-me a espaço de diálogo sobre os processos ou sobre a experiência.

S

de símbolos artísticos. É o elemento essencial para a leitura de significados de qualquer espetáculo de música, dança ou teatro. O campo de leituras possíveis numa experiência artística leva a tantas significações quantos os espectadores da sala.

T

de teatro, como arte que se potência no encontro com a música, nos ambientes que se ampliam e nas emoções que provoca.

U

de U2. É uma banda de rock irlandesa fundada em 1976. A sua música foi influenciada pela música popular e que explorou o pós-punk. Os U2 através das suas letras de cariz político e poético são considerados musica de intervenção. Influenciaram muitas bandas do novo rock.

V

de Vygotsky. Foi um pensador russo que contribui com descobertas fundamentais sobre o desenvolvimento das crianças e a importância das interações sociais no desenvolvimento. Um dos conceitos mais importantes que influenciaram a pedagogia é “Zona de desenvolvimento proximal” e que explora a relação educativa. Debruçou-se também sobre a importância do jogo e um contributo fundamental foi o seu trabalho sobre pensamento, linguagem e leitura simbólica que abriu caminho para a compreensão das relações entre arte e educação.

W

de Walter Omar Kohan, um filósofo da educação que se tem dedicado à filosofia na infância. Parte da inversão do conceito de educação da infância para infância da educação, problematizando a relação pedagógica. Esta provocação propõe a infância dos inícios, das potências e dos devires e que derruba a parede de vidro que separa crianças, jovens e adultos para, assim, encontrar uma qualidade comum vibrante e espantada mas exigente também: “…infância é devir, sem pacto, sem falta, sem fim, sem captura; ela é desequilíbrio; busca; novos territórios; nomadismo; encontro; multiplicidade em processo; diferença; experiência. Diferença não-numérica; diferença em si mesma; diferença livre de pressupostos. Vida experimentada; expressão de vida; vida em movimento; vida em experiência.” (Kohan, 2003) Podemos também fazer a pergunta invertida: o que é ser adulto? À primeira vista pode parecer distante da educação musical. Penso que o questionamento a estes níveis pode fazer reequacionar a relação pedagógica e manter infantil o modo entusiasmado de fazer e pôr coisas no mundo da educação musical. Ler mais aqui: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0184.html

X

de xilofone, o instrumento mais democrático na educação musical. O xilofone pode fazer tocar num conjunto instrumental o instrumentista mais virtuoso ao mais iniciador. A tarefa constitui-se fonte de foco e atenção mais apurada e de prazer musical individual e coletivo, convocando um esforço pessoal adequado à competência de cada um.

Y

de Yellow Submarine dos Beatles, uma obra já clássica da história do pop e um bom exemplo de como cruzamento de linguagens, neste caso a música e a animação, são um campo rico para a criação. Podemos perguntar o que terá nascido primeiro, a história ou a música, o filme ou a banda sonora? O desvendamento dos processos criativos é um espaço extraordinário para a música na educação.

Z

de zirophone, instrumento inventado por um construtor de instrumentos improváveis do universo da música eletrónica a partir de gira-discos antigos e que numa instalação fascinante, pôs o público em interação numa lógica de DJ.

A APEM

A Associação Portuguesa de Educação Musical, APEM, é uma associação de caráter cultural e profissional, sem fins lucrativos e com estatuto de utilidade pública, que tem por objetivo o desenvolvimento e aperfeiçoamento da educação musical, quer como parte integrante da formação humana e da vida social, quer como uma componente essencial na formação musical especializada.

Cantar Mais

Cantar Mais – Mundos com voz é um projeto da Associação Portuguesa de Educação Musical (APEM) que assenta na disponibilização de um repertório diversificado de canções (tradicionais portuguesas, de música antiga, de países de língua oficial portuguesa, de autor, do mundo, fado, cante e teatro musical/ciclo de canções) com arranjos e orquestrações originais apoiadas por recursos pedagógicos multimédia e tutoriais de formação.

Saiba mais em:
http://www.cantarmais.pt/pt

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©  Associação Portuguesa de Educação Musical

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